Prontuário eletrônico resulta em ganhos de produtividade

Inovações tecnológicas desenvolvidas sob medida formam o instrumental com que conta hoje a área de saúde para ganhar produtividade e melhorar a qualidade dos serviços de hospitais, clínicas, laboratórios e equipes médicas. Como benefício complementar, trazem maior segurança ao atendimento dos pacientes. Para atingir esse patamar, poderosas plataformas digitais conhecidas como Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP) são criadas por empresas de software de gestão da saúde, com o objetivo concentrar todos os processos em um único sistema eletrônico, eliminando papel impresso. “Quando os hospitais tomam a decisão de informatizar processos, entram em um projeto de reengenharia baseado nas melhores práticas globais”, diz Evandro Garcia, diretor da área de TI em Saúde da Philips Latam, que comercializa a plataforma Tasy.

Além de rotinas administrativas, as plataformas abrigam guias de internação, trâmites dos convênios, relatórios médicos, medicações prescritas, exames realizados, diagnósticos, dados de cirurgias. “Enfim, o histórico completo do paciente, com todos os procedimentos realizados durante sua permanência no hospital”, sintetiza Valmir Oliveira Jr., diretor comercial de produto da MV Informática Nordeste Ltda. Hospitais mais avançados no PEP disponibilizam também softwares de suporte às decisões médicas, alguns desenvolvidos com auxílio da Inteligência Artificial. São verdadeiras bibliotecas internacionais baseadas em evidências, com informações sobre doenças de diversas especialidades médicas, tratamentos, toxicologia, entre outras, disponíveis para pesquisa do médico no momento do atendimento. As mais acessadas são a Clínica Key, da Elsevier; a UpToDate, da Wolters Kluwer; e a Micromedex, da Truven Health Analytics.

De acordo com Oliveira, para informatizar processos com segurança e credibilidade, os hospitais seguem normas rigorosas, estabelecidas por certificadoras internacionais, que avaliam por níveis de zero, quando há ausência total de informatização, até sete, quando nada mais é produzido em papel impresso, havendo integração digital completa de todos os departamentos. As principais certificadoras que auditam hospitais brasileiros são JCI, ONA, NIAHO e HIMSS. No Brasil, apenas três hospitais têm certificação HIMSS – Health Information and Management Systems Society nível sete: Unimed Volta Redonda (RJ); Unimed Recife III (PE) e Márcio Cunha, em Ipatinga (MG). Os dois primeiros utilizam a plataforma SOUL MV, desenvolvida pela MV e o terceiro, a Tasy, da Philips.

Oliveira informa que, dos 7.000 hospitais brasileiros, apenas 35 são certificados, 15 dos quais clientes da MV. Ele explica que a certificação diz respeito especificamente à gestão de processos. Famosos hospitais brasileiros com corpo clínico estrelado não têm o grau máximo de certificação, porque ainda usam papel e caneta. O Hospital Unimed de Volta Redonda, inaugurado em 2010, utiliza a plataforma SOUL MV e foi concebido para operar no formato sem papel, como explica seu presidente, o pneumologista Luiz Paulo Tostes Coimbra. Até o ano passado, o hospital estava certificado no nível seis, mas há quatro meses recebeu certificação nível sete, da HIMSS.

“Em 2010, investimos R$ 30 milhões nas obras civis, no PEP e no treinamento das equipes médicas. Agora, são mais R$ 25 milhões para a construção de uma torre de sete andares que, entre outras ampliações, abrigará 86 leitos a mais do que os 180 existentes. Temos 10 salas cirúrgicas, onde são realizadas 850 cirurgias/mês”, diz. Segundo ele, apenas a prescrição médica é impressa em papel e fornecida ao paciente quando recebe alta. O grupo BP (A Beneficência Portuguesa), com 159 anos de existência, engloba três hospitais na capital paulista, que realizam 30.000 cirurgias por ano, em 25 salas cirúrgicas. Adotou o Tasy há dois anos, como conta Lilian Quintal Hoffmann, superintendente-executiva de Tecnologia da Informação do hospital. “O PEP é o processo central, primeiro passo para que se possa obter todos os dados de atendimento do paciente em modo digital, onde acrescentaremos outras ferramentas para melhor eficiência”, ressalta. “Precisamos acelerar, mas com segurança.”

Ainda é voz corrente na área, que muitos médicos são reticentes quanto a digitalização total pelo PEP. Há os que ainda preferem o papel e têm dificuldade com novas tecnologias; normalmente pertencem à geração babyboom que, quando crianças não teclaram no celular, nem brincaram com gadgets eletrônicos.

Em outra frente, estão os médicos que atuam em vários hospitais. Nestes casos, explica a anestesista Mônica Ferraz de Arruda, que trabalha no Santa Joana e no Alvorada, a dificuldade está em que os médicos têm de conhecer distintas plataformas, desenvolvidas por provedores diferentes. “O quadro se complica conforme a assiduidade do médico no hospital. Se a frequência é sistemática, ótimo; mas se for eventual, o médico terá dificuldade de navegar nos programas por falta de hábito”, observa. Fato é que o prontuário eletrônico veio para ficar e não há mais volta, como afirma Lilian Hoffmann: “O PEP é um momento na escalada da inovação.”

Fonte: Valor Econômico