Adequação de agências digitais à lei de dados pessoais começa lentamente

Com parte do segmento adiando compliance com Lei Geral de Proteção de Dados, especialistas preveem “correria” e “desespero” em 2019; regulamento entra em vigor em fevereiro de 2020

HENRIQUE JULIÃO • FLORIANOPOLIS

Faltando 15 meses para o início da vigência da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), a adequação de muitas agências de marketing digital pode estar ocorrendo em ritmo mais lento que o ideal. Enquanto alguns players pretendem entrar em compliance com o regulamento já em 2019, outros ainda não iniciaram o processo.

Durante evento da Resultados Digitais (RD) que reuniu empresas do ecossistema de marketing digital na semana passada, uma série de profissionais da área admitiram desconhecer os efeitos da legislação que disciplina a coleta, o armazenamento e o processamento de informações capazes de identificar um indivíduo.

“Minha operação administrativa não está em cima disso no momento. Hoje, não há nada no nosso planejamento financeiro [para 2019], mas vamos entender um pouco mais para saber o que é necessário”, afirmou ao DCI o sócio-diretor da DNA de Vendas, Álisson Razoni.

Situação similar foi reportada pelo CEO da TK Marketing, Tulio Krause. “Ainda sei muito pouco sobre a mudança. A partir do momento que souber do impacto, terei que colocar no orçamento”, afirmou ele – sinalizando que por enquanto “não consta” algum investimento previsto para o tema.

Vendo pouca movimentação de clientes nesse sentido, a advogada Gracia Camargo segue o mesmo caminho e prevê uma “correria” pelo compliance no ano que vem. “Há uma grande dificuldade de entender o alcance da lei. Penso que vamos chegar em dezembro de 2019 e nesse momento as empresas vão começar a ficar desesperadas”.

Preparando terreno

Por outro lado, há quem esteja mais adiantado em relação ao tema. “Boa parte das nossas ferramentas estão adaptadas. A adequação [que falta] agora é na parte de processos”, afirmou cofundador e diretor de marketing da Diwe, Eduardo Fonseca.

Segundo ele, o relacionamento com parceiros já adequados o regulamento europeu de proteção de dados pessoais (que ficou conhecido como GDPR aqui no Brasil) acelerou o processo dentro da empresa. “Quem atua no mercado de marketing digital precisa conhecer [o tema]”, adicionou o executivo.

No caso da Goo Marketing, a intenção é estar em compliance até o fim do primeiro trimestre do ano que vem, afirma o CEO da agência, Leandro Goulart. “Temos bom relacionamento com parceiros tecnológicos, o que ajuda. Quem não tem essa facilidade pode ter uma surpresa”, afirmou ele. O preço da adequação, contudo, ainda é uma incógnita. “Ainda precisamos sentar e ver [quanto vai custar].”

Aprovada pelo Congresso em julho e sancionada pelo presidente Michel Temer em agosto, a LGPD será obrigatória para empresas de todos os setores a partir de fevereiro de 2020, podendo causar a cobrança de multas no caso contrário. Ainda assim, não é descartada a dilatação do prazo de adequação, uma vez que a criação de uma autoridade responsável pela fiscalização da lei (previamente chamada de Autoridade Nacional de Proteção de Dados, ou ANPD) segue como uma incógnita.

Bom para todos

Para a advogada e gerente de implementação na Resultados Digitais, Fernanda Nones, a LGPD não deve ser encarada pelo ecossistema de marketing digital “como um fardo ou uma perda de direitos”. “Na verdade, ela pode estreitar o relacionamento das empresas com o consumidor”. Ainda assim, Fernanda avalia que mesmo especialistas do campo jurídico devem divergir quanto ao efeito da legislação no cotidiano das empresas de marketing digital.

Um cenário descrito pela profissional envolve o legítimo interesse – ou uma das hipóteses que permitem o uso do dado pessoal de um indivíduo sem a necessidade do consentimento. “É algo muito específico e que precisa ser detalhado. Como cai para a interpretação do juiz, a gente nunca sabe o que pode acontecer”, discorre.

Usando o exemplo de agências que lidam com email marketing, Fernanda afirma que a melhor estratégia “é usar esses 15 meses restantes para realizar o reengajamento da base”. “Quem tiver lista de contatos precisa garantir, nesse período, que todos os [donos dos] emails deem permissão para você entrar em contato. Sem esse registro documentado, você pode perder a possibilidade de se comunicar com eles”. /O repórter viajou à Florianópolis a convite da Resultados Digitais

jornal DCI